Sufocante, instigante e essencial para qualquer seriador, The night of exibiu sua season finale no dia 28 de agosto e já se consagrou como uma das melhores estréias do ano.
Naz, um americano descendente de paquistaneses, é convidado
para uma festa da faculdade. Após perder sua carona, ele resolve pegar o taxi
do pai e ir à festa sozinho, mas o que parece mais uma noite comum se torna um
pesadelo. Depois de passar a noite com Andrea, Naz acorda na casa da garota e a
encontra morta, desesperado ele resolve fugir, mas não chega muito longe.
Principal suspeito do crime, Naz é acusado do assassinato e vai para Rikers
Island, onde indiciados de crimes graves esperam julgamento.
A minissérie discute muito sobre preconceito e injustiças, principalmente
nos sistemas criminais e judiciais. Naz se mostra muito ingênuo no episódio
piloto e todas as suas ações vão apenas construindo evidências cada vez mais
incriminatórias para si. Não sabemos se ele é realmente culpado, isso só é
deixado claro no fim da temporada. Mas no primeiro episódio, naquela fatídica
noite, o que temos como ponto de partida é “lugar errado, hora errada”. Tudo dá
errado para aquele cara aparentemente inocente, e todas as suas ações podem
parecer culpadas, quando na verdade são apenas sucessões do acaso.
Nada é desperdiçado na trama de The night of, todo close,
todo diálogo, toda cena ou objeto apresentado, será de suma importância em
algum momento. Bem parecido com The wire nesse quesito, tudo o que é
apresentado em seus episódios é uma construção consistente, um caminho a ser
percorrido para a estruturação sólida e bem arquitetada.
O elenco perfeitamente escalado eleva a qualidade da
história, te fazendo ficar vidrado não apenas na trama e acontecimentos, mas em
cada passo dos personagens. Apesar do excelente elenco, como por exemplo Michael
Kenneth Williams, eterno Omar de The wire. O grande destaque vai para Riz Ahmed
e John Turturro que dão um show e roubam todas as cenas em que atuam. A empatia
com os personagens cresce através dos episódios e o espectador vai ficando cada
vez mais apreensivo pelo desfecho que a cada novo acontecimento se demonstra
cada vez mais agridoce e inesperado.
Os olhinhos pidões de Naz dão pena, nos fazendo ficar
divididos entre acreditar nas evidências e especulações ou no que acreditamos
ter visto acontecer.
John Turturro interpreta impecavelmente o advogado porta-de-cadeia
Jack Stone (papel que originalmente seria do falecido James Gandolfini), que em
apenas alguns minutos do episódio piloto demonstra brilhante domínio de tela, e
um promissor personagem. No lugar certo e na hora certa (ao contrário de Naz,
ironicamente) Stone consegue o caso, que devido a gravidade das acusações,
promete alavancar a carreira do advogado desacreditado por todos. Seu
personagem tem muito peso na trama, e vai desenvolvendo a ponto se tornar
central e protagonista ao lado de Naz, principalmente nos últimos episódios.
Apesar de presenciar algumas reclamações na internet sobre o foco em sua doença de pele, a relevância disso vai se mostrando aos poucos e de forma contundente, pois é inegável que a doença afeta sua vida e principalmente sua alto-estima no trabalho. Stone ser apenas aquele advogado que cobra 250 dólares quando você assina um acordo vai muito além de um trabalho preguiçoso, pois vemos através de sua empreitada no caso de Naz que Stone é um ótimo e experiente advogado.
Apesar de presenciar algumas reclamações na internet sobre o foco em sua doença de pele, a relevância disso vai se mostrando aos poucos e de forma contundente, pois é inegável que a doença afeta sua vida e principalmente sua alto-estima no trabalho. Stone ser apenas aquele advogado que cobra 250 dólares quando você assina um acordo vai muito além de um trabalho preguiçoso, pois vemos através de sua empreitada no caso de Naz que Stone é um ótimo e experiente advogado.
A fotografia e a direção da obra são pontos a se elogiar
fortemente. A beleza das cores frias da imagem densa e realista, sempre com
ângulos e planos interessantes, auxiliada pela segura e consistente direção,
fazem The night of caminhar aos poucos através de seus 8 episódios de forma firme
em uma historia intensa, claustrofóbica e muito bem escrita.
É possível ver falhas na condução policial desde o começo da
historia, a certeza que os detetives possuem acerca da culpa de Naz faz com que
seu trabalho desleixado fique estagnado sem a procura de novos suspeitos.
Através da temporada e até mesmo dos indícios mais sutis do episodio piloto,
vamos deduzindo aos poucos quem é de fato culpado. Suspeitos vão surgindo aos
montes no julgamento e você não sabe mais em quem confiar. As cenas de tribunal começam mornas até se tornar uma protagonista poderosa.
Claro que não vou passar nenhum spoiler e dizer se no fim
descobrimos se Naz é mesmo culpado ou não, mas há uma reflexão muito grande que
a série nos traz, como o processo criminal é injusto.
O sistema judicial se mostrou falho em diversos aspectos,
quando uma pessoa aparentemente inocente começa agir da forma que Naz age na
prisão, você percebe que em como tantos casos, um inocente foi corrompido
(assim com em 1 contra todos, por exemplo). Se Naz for o culpado tudo bem,
estamos falando de consequências simples. Mas e se não for? Ele está na prisão
aguardando julgamento, então até aí ele ainda não é um condenado. E se ele sair
da cadeia? Mesmo que seja inocentado, nunca mais sua liberdade será a mesma. Primeiro,
a exposição que sofreu na mídia, e a forma como a maior parte da população já o
julgara como culpado. Segundo, sua relação com a família e amigos já foi
abalada e depois de suas transformações na cadeia, nada mais será igual.
Ainda me faltam elogios para descrever a série e todas
as emoções sentidas ao assisti-la. A precisão da narrativa ao lado dos diálogos
de tirar o fôlego e personagens que se sobressaem fizeram com que The night of
se destacasse grandemente.
A ambiguidade acerca da inocência de Naz faz com que o
suspense fique cada vez mais instaurado na trama, provocando todo tipo de
reação no espectador. Não é toda série que constrói sua trama assim, de forma
tão bem trabalhada e coerente, junto a um realismo incontestável. Intensa
e agonizante, The night of te faz mergulhar de cabeça na história de Nasir Khan
e Jack Stone, em uma atmosfera sempre pesada e perigosa que a própria trama cria.
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