
Faz dois dias que eu não tiro suas marcas da memória, e
quase três que as outras continuam no pescoço. É como embriaguez, eu apaguei
quando a porta do carro fechou e acordei embaixo do chuveiro as onze.
O que é que você fez comigo?
O que é que você faz comigo?
Dos primórdios você é dono, e não me poupo. A cada encaixe
as peças voltam pro lugar, e eu insisto no momento em que as peças acabam, mas
ainda existem espaços vagos.
Eu volto pro teu cais.
Inadmissível, confesso. Imbecil, admito. Serás proprietário
efetivo de cada inicio que minha vida ousar ter? Dos meus amores, meus lábios
satisfeitos, do meu corpo a estremecer.
Somente tu.
E eu vou negar se perguntarem, dizer que não te vejo a
tempos, ignorar as minhas falhas no teu sofá. Ninguém soube que eu estive lá.
Ao menos nós sim.
Quando a realidade encosta lenta na minha orelha e sussurra
maldades sobre os presentes que eu te entrego sem mereceres, eu chego a
ensurdecer. Dos que poderiam ser, és o primeiro, efetivo, cativo, dono do que
me faz querer. Não poderia outro alguém chegar mais próximo quando até as
falhas te pertencem.
Mas passarás em breve, insisto em dizer.
Passarás em breve, tento me convencer.
Há sempre um ultimo gole pra beber.
Talvez esse tenha sido o meu.
Eu espero que não.
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